terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"A última aula” de Randy Pausch




Se me perguntarem se sou feliz, respondo com naturalidade: sim e não – tudo depende do momento em que a pergunta é feita.
Não é necessária definição filosófica para termos a consciência do nosso estado de alma: contentamento, sensação de bem-estar, prazer, e um sem número de nadas que consubstanciam as emoções. Sendo certo que a felicidade chega sempre em pequenas doses e pelas mais diferenciadas vias, quando menos se espera…bate à porta: “…será chuva? Será gente? Gente não é certamente e a chuva não bate assim…” – Augusto Gil.
Nem é vento com certeza…” mas pode ser a felicidade porque tem um “bater” suave e inebriante, assim:
Decide-se um primeiro encontro e, a páginas tantas, descobrem-se empatias nos olhares que sobram de cada conversa…
Espera-se o conhecimento das feições da pessoa que se adivinha espiritual e sensível na poesia das palavras que junta – o momento de satisfazer a curiosidade é sublime!...
Se “ela” diz que sim, como canta o poeta Viriato da Cruz no “Namoro” (que não me canso de citar!), aquele instante é divino…
A visita inesperada, o aumento de ordenado, uma agradável conversa, um opíparo jantar, uma noite de amor, o nascimento de um filho, … quanta felicidade – até no gesto de um cativante sorriso!
Há, pois, em cada dia – mesmo que a vida se mostre “madrasta” – segundos de prazer que não contabilizamos por manifesta ganância: foi pouco, quase nada – queríamos mais, quase tudo, um “jackpot” constante e permanente!
Se me perguntassem sobre a última vez em que fui feliz, diria: há pouco, quando li um belíssimo texto, embora curto, escrito na sombra do anonimato. Estou como certo sujeito que ia ouvir a “Flauta Mágica” de Mozart e abandonava a sala de seguida: ficava “saciado” para o resto do serão – assim estou eu neste principio de noite…
Pensando bem… continuo moderadamente feliz porque a dor que tinha nas costas já não me apoquenta, a música que ouço “descansa-me” em absoluto, há pouco espreitei pela janela e vi o céu estrelado, o chá de cidreira fumega na chávena, e daqui a nada tentarei adormecer depois de ler umas quantas páginas de um dos livros que tenho à cabeceira, talvez…“A última aula”, de Randy Pausch.
Dizer que estou “moderadamente feliz” implica assumir que, apesar de tudo, alguns pensamentos preocupantes estão adormecidos e talvez despertem, “travestidos em fantasmas”, antes do primeiro sono. Se isso acontecer, conto carneiros – dizem que é remédio santo para adormecer –, é melhor do que somar fantasmas. Acordar depois de uma noite de sobressaltos, não augura nada de bom para as primeiras horas do dia seguinte, o que não impede de sonhar com um bonito dia, mesmo que o céu esteja tapado por nuvens negras e a chuva persista, teimosa…
Não podemos escolher as cartas que nos são distribuídas, a nossa liberdade reside em saber jogá-las” – Randy Pausch, professor de Ciência Computacional.
Morreu no dia 25 Julho, 2008, com 46 anos, vítima de um cancro no pâncreas
Aconselho vivamente a leitura da “ A última aula”.
… E, por favor, sejam felizes.

3 comentários:

  1. Texto sentido. Muito lindo.Por vezes sou Alice no País das Maravilhas!
    Alethia 1953

    ResponderEliminar
  2. Gostei especialmente da forma como jogaste as palavras nas cartas que foste dando ao desenrolar do texto... muito bom mesmo :)

    ResponderEliminar