segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Aquilino Ribeiro e Alves Redol – os “novos” escritores




Constantino Cara-Linda, “cantigas” ou “cuco”, dependia de quem o interpelava, foi moço do Freixial, lá para as bandas de Vila Franca de Xira, e inspirou Alves Redol, de quem foi vizinho e amigo.
A sensibilidade do escritor deu forma à estória de “Constantino – guardador de vacas e de sonhos”, obra literária onde voltei a encontrar o povo ribeirinho de Vila Franca, como acontecera em “Fanga” e na “Barca dos sete lemes”; os dois primeiros tenho-os à mão, embora lá por casa existam mais uns quantos do mesmo autor.
Quando comprei o livro “Constantino…” (não recordo a data), já a obra ia na sétima edição, e “Fanga”, em 1963, contava com seis!
(Hei-de voltar lá mais para diante ao Constantino Cara – Linda, o “cuco rambóia”; por ora fico-me pela opinião modesta que desejo partilhar, a propósito de outro vulto enorme das letras e que por estes dias mereceu justa homenagem: Aquilino Ribeiro).
Trago à minha croniqueta dois autores que escreveram com as palavras do povo aquilo que o povo diz nas estórias que constrói – coisas reais nos romances que foram buriladas com a mestria de quem “…nasce (o escritor) todos os dias, insubmisso e firme, tanto para detectar injustiças, qualquer que seja a sociedade onde viva, como para repudiar o próprio ripanço que se apodera de alguns…” (Alves Redol).
Possivelmente, Aquilino Ribeiro teria assinado por baixo o respigo da frase do prefácio de “Fanga”!
"Reproduzir a linguagem de um rústico, já não digo com fidelidade, mas artificio, redundaria num árduo e incompensável lavor literário. O que se comete foi filtrá-lo, mais na substância do que na forma…” – disse Aquilino, a propósito da novela “O Malhadinhas”, um dos clássicos que se estudava no meu tempo do liceu.
Por aqui se vê como o escritor rebuscava a linguagem do povo em proveito do enredo das suas estórias; outro exemplo: “A Casa Grande de Romarigães”, saboreia-se da paisagem às trutas do rio o encantamento do relato que prende o leitor.Com culturas e vivências diferentes, dir-se-ia que, na escrita, isso seria notório - de facto é, menos nos “retratos” do ambiente rural…
Os dois foram republicanos convictos e tiveram do País uma imagem lúcida no tempo. Aquilino está, diz-se, associado à conjura do regicídio, como agora certa sociedade deu nota e saliência a propósito da trasladação os seus restos mortais para o Panteão Nacional.
Redol, nas suas obras, foi mestre nos subterfúgios da linguagem de modo a “fugir” ao lápis da censura., implacável, como se sabe, nos cortes a direito e de viés sobre tudo e sobre aqueles que não estivam ao jeito do poder instalado.
Lamento que um e outro continuem esquecidos do público leitor, mas um dia destes, quem sabe, talvez renasçam das cinzas como “novos escritores” – foram as cinzas de Aquilino que agora o trouxeram de volta à nossa memória colectiva!
Quanto à lembrança de Alves Redol, a culpa foi do Hugo quando me apresentou a namorada:
-É a Rita, Rita Cara-Linda.
Nem mais: “Constantino guardador de vacas e de sonhos” - lembram-se?
Coincidências…

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