sexta-feira, 6 de março de 2009

Monumento a quem merece

A proximidade afectiva torna suspeita a opinião que tenho do dono de certo bar da cidade. Diria até que estamos tão próximos que nos “confundimos” pelo riso de uma boa piada; como o grande poeta Mário de Sá Carneiro disse de si, “eu não sou eu nem sou o outro…”, enfim, daí esta confusão de personalidades que, bem vistas as coisas, nada tem de bizarro...
Ora, se pelo riso nos entendemos, quando a “graça tem piada”, foi esse o trejeito que me ficou dependurado após leitura apressada, depois vagarosamente repetida, da parte final do terceiro parágrafo da peça publicada pelo CBS na edição anterior, a propósito de uma praceta da cidade, onde, por coincidência, eu e o meu amigo, dono do tal bar, coexistimos de forma fraterna e solidária.
O corpo da notícia, na verdade, não justifica, a meu ver, o espaço desta croniqueta, mas o pequeno “pormenor” do presidente da edilidade de Oliveira do Hospital, num momento de saudável disposição, acrescentar à sua resposta, a propósito da necessidade da requalificação da tal praceta, onde eu e o meu amigo coexistimos pacificamente, insisto, a lapidar frase:”… a não ser que o senhor queira lá colocar um monumento aos frequentadores do Ritual Bar”, (como se isso constasse das ideias de quem propunha intervenção camarária), merece, pelo menos, um meio sorriso e um pequeno “devaneio” da minha parte, com a aquiescência do meu amigo, claro está…
A notícia é para ser lida no seu todo, por isso remeto os leitores para a dita – ficarão a conhecer as “causas” da ironia do presidente da edilidade oliveirense, como está escrito no CBS.
Imaginemos que a proposta incluía, além do corte dos arbustos e arranjo dos passeios, um monumento para embelezar a praceta (o que não seria de todo descabido, na pessoa do seu patrono, o poeta Manuel Cid Teles)…
Então, particularizar determinado estabelecimento comercial e os seus ilustres clientes (ilustres, digo bem – de outro modo não justificariam a “estátua”) seria uma atitude simpática, no meu modesto raciocínio, e reflectia a importância do mesmo em determinado contexto. No caso, com ou sem ironia, o presidente da edilidade do “meu concelho” por certo pretenderia exaltar uma mão cheia de actos culturais levados à prática no tal bar durante oito anos – oito –, que me dispenso de recordar por serem sobejamente “visíveis” aos olhos de quem quer ver, perante a presença de gente elegante no porte, de classes sociais díspares, atentas e respeitosas.
Tamanha honraria bem poderia ser aplicada, por inerência de atitudes semelhantes, a outros estabelecimentos similares e aos seus fiéis e cordatos clientes; eu e o meu amigo entendemos que o “sol quando nasce é para todos”: para uns, o aconchego do entretenimento espiritual pode ser um sarau de poesia, uma noite de boa música ou a contemplação de uma exposição de pintura; para outras, uma sessão de anedotas ou uma noitada de jogo de cartas, por exemplo, têm o mesmo efeito reparador das maleitas da alma. Por isso, a hipotética ideia (do monumento…), ainda que risonha, brejeira, irónica, sarcástica, pouco, muito ou nada séria, tem pernas para andar – os clientes merecem! Haja quem a proponha em letra de forma junto das competências devidas! Depois, logo se vê…
Enquanto me distraio com a escrita nesta ânsia indomável de escrevinhar coisa que mereça leitores – um que seja! – o meu amigo, coitado, faz de Villaret no “Cântico Negro”:
"Vem por aqui — dizem-me alguns com os olhos doces”
“ (…) Sei que não vou por aí”!
Entre o princípio e o fim do poema, fica o inconformismo do grande poeta José Régio.

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